Adísia Sá é vítima em inquérito na Delegacia de Proteção ao Idoso

*Com colaboração de textos e imagens do Jornal OPovo*

Jornalista, escritora, radialista e professora. Nos seus 94 anos de vida, Adísia Sá tem uma história de ensinamentos, questionamentos e sede de justiça. As referências sobre a atuação dela no Ceará são dezenas. Atualmente, ela é vítima em um inquérito que tramita na Delegacia de Proteção ao Idoso e ré em uma ação trabalhista que pede R$ 864 mil. O processo na Justiça do Trabalho foi movido por um sobrinho denunciado pelos crimes de exposição a perigo da vida e da saúde e exploração econômica de pessoa idosa.

A denúncia contra o sobrinho foi feita pelo departamento jurídico da Associação Cearense de Imprensa (ACI), no ano passado, aos promotores Alexandre Alcântara e Isabel Guerra – do Núcleo de Defesa do Idoso e da Pessoa com Deficiência da Promotoria de Justiça de Fortaleza, do Ministério Público do Ceará (MPCE).

Formada em Filosofia, Adísia Sá também foi professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade de Fortaleza (Unifor), além de ter protagonizado a criação do curso de Jornalismo no Ceará, na UFC, em 1965. Ela, que também é radialista, foi presidenta da ACI e membro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará (Sindjorce).

Mesmo quando se aposentou, a professora continuou por anos em meio a debates, eventos e com participação cativa na programação da rádio O POVO/CBN. Mas, em junho de 2022, uma queda com fratura no fêmur — ocorrência comum a pessoas idosas — escancarou a necessidade de intervenção sobre como os cuidados, financiados pela própria remuneração de Adísia Sá, estavam sendo executados. Com mais de 90 anos, ela dormia sozinha e caiu após tropeçar em um piso solto da casa. Não tinha cuidadoras revezando-se durante o dia e a noite, apesar de idosa.

Acionado, o Ministério Público do Ceará identificou que quase metade dos ganhos da professora era diretamente encaminhada à conta de seu sobrinho, pessoa a quem Adísia Sá confiou o apoio em manejar seus recursos e suprir as questões burocráticas — cada vez mais tecnológicas — sobre pagamentos e regularidades de contas.

Ainda conforme o Ministério Público, ficou constatado que o dinheiro não estaria sendo investido no que era necessário para Adísia Sá, da alimentação aos cuidados médicos e dentários. Em setembro de 2023, o sobrinho foi afastado da responsabilidade com a professora aposentada da UFC. 

A responsável agora, segundo indicação do Ministério Público, é Luciana Mesquita de Abreu, sobrinha de Adísia Sá. Ela confidencia questões familiares históricas e reconhece o hiato — também familiar — que a fez não agir antes para proteger a tia.

Chamada ao Núcleo de Defesa do Idoso e da Pessoa com Deficiência da Promotoria de Justiça de Fortaleza, Luciana Mesquita conta que prestou esclarecimentos e aceitou ficar responsável pela tia. Depois de ver toda a situação, conta que precisou regularizar pagamentos de funcionários, começar a fazer supermercado de forma contínua, garantir que a professora não ficasse mais sozinha.

“Quando foi em dezembro, chega um documento do Ministério Público do Trabalho para a tia Adísia. Pensei que fosse até alguma cuidadora, mas quando identifiquei quem era o reclamante, eu não acreditei. Minha tia foi ferida nas duas coisas mais importantes para ela: família e trabalho. Ela, que foi tão defensora da justiça para o trabalhador , está sendo acusada de não ter cumprido isso”, ressente-se. Luciana Mesquita, que hoje mora em Portugal, administra os recursos financeiros de Adísia, enquanto sua mãe, residente em Fortaleza, é responsável pelo monitoramento presencial. 

A luta de Adísia Sá, agora através de terceiros – dada a idade — é provar que não precisa e nem teria como pagar R$ 864 mil a um sobrinho pelo que seriam verbas rescisórias não pagas por serviços prestados durante 18 anos.

Na ação ação trabalhista movida por Jacob José Barros de Sá, sobrinho de Adísia Sá, ele argumenta que foi contratado para ser secretário da jornalista – com salário de R$ 6 mil. No entanto, ele denuncia a professora por nunca ter assinado sua Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e por tê-lo feito acumular funções.

O sobrinho afirma que por ter sido contratado como secretário não poderia levá-la a médicos e dentistas. O que configuraria funções de um cuidador , segundo a versão de Jacob de Sá.

A defesa de Adísia Sá destaca pontos argumentativos da Ação Trabalhista que não seriam verdadeiros e apresenta os procedimentos judiciais que constam no

Ministério Público do Ceará, além de detalhar contextos que provariam a não existência da relação de emprego entre o a professora Adísia Sá e o sobrinho.